junho 01, 2012

mais da forma, do que da história

We Need to Talk About Kevin (2011) de Lynne Ramsay é um filme exemplar no trabalho das essências expressivas da arte cinematográfica e que permite a qualquer pessoa perceber que o cinema é muito mais do que a história que nos é contada.


A história aqui explorada vem sendo testada em diferentes formas nos últimos tempos, por exemplo em Beautiful Boy (2010) de Shawn Ku ou Boy A (2007) de John Crowley. Lynne Ramsay surpreende com o seu filme, e vai muito além das mais recentes experiências neste campo, porque não procura dar respostas, pelo menos de modo directo, mas preocupa-se antes de mais com a abertura de um canal directo entre o espectador e a mãe. A forma como o filme é construído, gera todo um sentido atmosférico, que nos transporta para dentro do filme, e particularmente para dentro do sentir daquela mãe.


Em termos narrativos o filme é perfeito, falhando nos elementos da história mais por causa da psicologia infantil, talvez porque procura socorrer-se daquela ideia fantasiosa do Mal que vem de dentro, que nasce com o rebento. É verdade que as crianças podem exercer um poder terrível sobre os pais, mas o que vemos aqui exigiria realmente que esta criança tivesse nascido possuída pelo mal, com um gene do mal, o que é ridículo.


Mas a forma narrativa totalmente deslinearizada é esteticamente perfeita, porque assume um comportamento sinuoso, a sua forma é um espelho da relação mental daquela mãe com o mundo. A primeira meia-hora do filme é brilhante, passamos o tempo todo em busca de respostas, quase desesperadamente, quantas vezes estamos quase a saber o que se passou, para depois nos ser retirado esse prazer. Somos mantidos em suspenso, tal como essa mãe vive os seus dias. Prolonga-se, quase que se agoniza em parte a capacidade do espectador para inferir, compreender, chegar ao fundamento do que está a ver. O filme está concentrado sobre os comportamentos dos personagens, e não sobre as suas acções, e é isso que o torna tão delicioso. Claro que não é possível aqui ignorar o brilhantismo da interpretação de Tilda Swinton, ela e o filme são um só.


We Need to Talk About Kevin é um filme obrigatório, não pelo que nos diz, mas pelo que a linguagem cinematográfica nos consegue fazer sentir. É uma experiência que mexe conosco e nos faz ver a realidade de uma perspectiva diferente.

2 comentários:

  1. Tenho esse filme há algum tempo, mas não sentia vontade alguma de vê-lo... Depois de ler sua análise fiquei com mais ânimo, talvez o veja nessa semana..

    ResponderEliminar
  2. Sim, também me levantou algumas reservas, a história parece à partida algo que já vimos antes, mas vale a pena.

    Já agora fica aqui um retrato da última curta desta realizadora, que é muito inspirador

    http://virtual-illusion.blogspot.pt/2012/11/sublime-swimmer.html

    ResponderEliminar